Rafael Marques (Foto de arquivo) |
12/12/2012
Rafael
Marques entregou à PGR portuguesa elementos sobre eventuais "conflitos de
interesses" do vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, accionista do
Banco Angolano de Investimentos, com filial em Portugal.
Jornalista Rafael
Marques defende que Portugal devia pôr em causa a presença do BAI no país Daniel
Rocha.
O jornalista
angolano Rafael Marques foi à Procuradoria-Geral da República, na sexta-feira,
submeter novos elementos no inquérito-crime que visa actuações de políticos próximos
do Presidente angolano José Eduardo dos Santos. Esses elementos “deverão
comprovar que o Banco Angolano de Investimentos Europa, que opera em Portugal,
funciona como um banco de pessoas politicamente expostas, entre as quais o
vice-presidente da República Manuel Vicente que é sócio”, disse ao PÚBLICO.
De acordo
com Rafael Marques, o maior banco angolano, o Banco Angolano de Investimentos
(BAI) “não deve operar em Portugal”. “Portugal deve conformar-se às medidas
internacionais de combate a branqueamento de capitais, que inclui limites
severos às operações e transacções financeiras utilizadas por bancos constituídos
por pessoas politicamente expostas?”, questiona retoricamente. Marques dá como exemplo
o facto de o BAI não poder “realizar operações através dos EUA”. O termo
Pessoas Politicamente Expostas (PPE) designa detentores de cargos públicos.
O BAI Angola
está presente em Portugal desde 1998, mas em 2002 mudou o estatuto jurídico
para filial como BAI Europa, sendo que o principal accionista, com 99,9% do
capital social, é o BAI. O administrador do BAI Europa José Tavares Moreira
disse ao PÚBLICO desconhecer se Manuel Vicente é accionista daquela instituição.
Afirmou: “Se já era accionista antes de ser membro do Governo não vejo qual é o
problema. Mas desconheço completamente esse tema.”
Tavares
Moreira “admite” que o maior accionista do BAI “seja a Sonangol”. No entanto,
escusou-se a dar informações sobre os accionistas justificando com o facto de
responder pelo BAI Europa e negou que este funcionasse “como um banco de
pessoas politicamente expostas”. Disse: “Os accionistas do BAI não são os
accionistas do BAI Europa, quem detém o BAI Europa é o BAI. O BAI Europa é
supervisionado pelo Banco de Portugal, tem uma política absolutamente
transparente.”
Entretanto,
Rafael Marques acabou de fazer um requerimento para ser assistente no processo
de inquérito-crime o que significa que passa a ter acesso ao processo, a ser
notificado das diligências ou a ter acesso a documentos que estejam em segredo
de justiça para o exterior – além disso, se o processo for arquivado, pode
recorrer da decisão.
O caso,
aberto pelo Departamento de Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP)
português, começou com uma denúncia de um cidadão angolano – Rafael Marques tem
prestado depoimentos. Recentemente, depôs sobre as filhas de José Eduardo dos
Santos, Tchizé e a empresária Isabel dos Santos, Manuel Vicente, o general Hélder
Vieira Dias “Kopelipa”, ministro de Estado e chefe da Casa Militar da Presidência
da República, entre outros.
No relatório
e contas de 2011 do BAI, Manuel Vicente aparecia no conselho de administração,
mas na actual página da Internet o seu nome não consta. Vicente foi presidente
do conselho de administração da Sonangol, a petrolífera que é a base da
economia angolana. Ocupou e ainda ocupa, segundo informações da Bloomberg, lugares no conselho de
administração de bancos angolanos e portugueses. O PÚBLICO tentou, sem sucesso,
entrar em contacto com vários assessores que fazem a ponte com a vice-presidência
angolana.
EUA alerta
Em 2010, a sub-comissão de segurança interna e relações governamentais do senado norte-americano publicou o relatório “Manter a corrupção estrangeira fora dos Estados Unidos” onde apresenta quatro casos, entre eles o de Angola, que expõem “as tácticas usadas pelas pessoas politicamente expostas e os seus facilitadores para levar para os EUA fundos suspeitos”. Nele investiga dirigentes angolanos, como Manuel Vicente e o presidente do conselho de administração do BAI, José Carlos Paiva.
Os senadores
norte-americanos revelavam que o maior accionista do BAI era a Sonangol, então
dirigida por Vicente – que, por sua vez, tinha 5% do BAI através de uma offshore, a ABL – criada, segundo
informações fornecidas no relatório, “para permitir alguma privacidade em relação
a este investimento”. “Como a Sonangol é uma empresa estatal e uma força
poderosa na política e economia angolanas, os seus executivos são considerados
PPE, o que significa que a liderança do BAI, assim como os seus detentores e
clientes, inclui PPE”, sublinham.
O BAI entrou
no mercado norte-americano através do HSBC de Nova Iorque, usando durante anos “os
serviços de transferência bancária, a troca de moeda estrangeira e cartões de
crédito americanos apesar de fornecer informações duvidosas sobre os seus
accionistas”, dizem. E criticam o HSBC por não ter identificado o BAI como um “cliente
de alto risco”, apesar de este se ter recusado várias vezes a entregar a lista
dos proprietários.
Além disso,
sublinham os senadores, José Carlos Paiva controlava também 5% do BAI através
de uma offshore e mais 13,5% através
de outras duas offshores – Paiva é,
por sua vez, presidente da Sonangol Reino Unido. Mais à frente revelam o “problema
severo de corrupção corrente em Angola”, que “levou o Citibank a fechar todas
as contas associadas ao Governo angolano e à Sonangol em 2003.”
O documento
conclui que o BAI era “exactamente o tipo de instituição financeira estrangeira
que o Patriot Act queria que fosse alvo de maior monitorização”. Em 2001,
recorda, o Patriot Act exigiu aos bancos que aplicassem medidas de escrutínio
extra a conta privadas de “figuras políticas, os seus familiares e associados
próximos”. Em sequência desta investigação, o HSBC americano cortou relações
com os bancos angolanos.
Em Julho,
Rafael Marques lançou uma campanha no seu site
Makangola – onde tem divulgado
casos de corrupção e violações de direitos humanos em Angola – em que apelava
ao fim das relações com o BAI. Aí revelava que “os dirigentes e os seus antigos
colegas detêm um total de 47,75% das acções do BAI. Por sua vez, 42,25% está
distribuído entre empresas privadas angolanas, ligadas a figuras do poder,
gestores nacionais e estrangeiros do banco, bem como empresas estrangeiras. Os
restantes 10% são detidos pela Sonangol (8,5%) e pela Empresa Nacional de
Diamantes, Endiama (1,5%).”
O jornalista
defende que Portugal, que aderiu à convenção das Nações Unidas contra a corrupção,
deveria pôr em causa a presença do BAI em Portugal. Esta convenção não obriga
os Estados membros a participar, “trata-se apenas de voluntarismo em aderir às
boas práticas”, explica Luís de Sousa, presidente da Transparência e
Integridade, Associação Cívica (TIAC), o braço português da Transparency
International, organização de combate à corrupção. Em Portugal não se deveria
deixar de perguntar “se o dinheiro que é investido cá está a ser investigado”,
acrescenta o também politólogo.
Neste momento
o Ministério Público está a investigar o caso, recolhendo documentação e outras
provas, nomeadamente ouvindo testemunhas. Os políticos angolanos que são
referidos na comunicação social poderão ainda não ter sido contactados. Depois
do inquérito, o MP decide se arquiva o processo ou deduz acusação.
Fonte: Público
1 comentários:
Nos temos que contar com os partidos da oposição para que ajude a combater a corrupção em Angola.
Sou que há um grande problema, os partidos da oposição, também estão a ser vitimas da mesma corrupção.
Recebendo carros de luxos, vivendas, salários isorbitantes.
Os partidos da oposição estão a espera que o povo vem lhe dizer que o dinheiro não pertence ao mpla mas sim ao povo angolano, e que outro partido também pode gerir os dinheiros de Angola.
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