William Tonet falando a imprensa, no final duma destas manifestações havidas em sua solidariedade(arquivo) |
SINSE processa
William Tonet por dizer que Cassule e Kamulingue foram mortos como fazem as
organizações terroristas
Luanda 3 dez 14 - O
jornalista angolano, William Tonet, foi constituido arguido num processo que
lhe foi movido pelos serviços secretos angolanos por difamação e injúria.
Trata-se da 98ª vez
que o diretor e proprietário do jornal Folha 8, desde a criação do semanário,
em 1996. O jornalista é acusado de difamação e injúria pela publicação de
matérias relacionadas com o homicídio de dois activistas contestatários ao
regime angolano. Alves Kamulingue e Isaías Cassule foram assassinados em maio
de 2012, quando tentavam organizar uma manifestação anti-governamental.
William Tonet, foi
ouvido na sexta-feira, 28 de novembro, pelo Departamento Nacional de
Investigação Criminal, num interrogatório que o coloca na condição de arguido.
Os Serviços de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), consideraram-se
difamados e injuriados num artigo do Folha 8. Este tecia comparações entre a
atuação dos serviços secretos e a organização terrorista Estado Islâmico (EI).
Comportamento
terrorista
Para o jornal Folha 8
a forma como a EI tem vindo assassinar alguns jornalistas feitos reféns, é
idêntica ao método utilizado pelo Estado angolano através dos seus serviços
secretos no homicídio de Kamulingue e Cassule. Em conversa com a DW África,
William Tonet não desmente, e explica que também os dois ativistas foram
assassinados sem julgamento e sem oportunidade para falar: “Foram barbaramente
assassinados. Os moldes foram os mesmos”. Mas, acrescenta, a comparação “foi
uma figura de estilo”.
O silêncio das
autoridades perante as graves violações dos direitos humanos, é outra questão
levantada pelo jornalista e director do Folha 8. Para William Tonet, quem devia
estar sentado no banco dos réus é o Estado angolano, pois Tonet diz que nunca
os serviços secretos nunca se “distanciaram” dos actos em que é citada a sua
participação. E que incluem, para além do caso de Cassule e Kamulingue, a
tortura recente de que foi vítima a jovem Laurinda Gouveia e outros integrantes
do Movimento Revolucionário.
O crime compensa
Questionado sobre as
verdadeiras intenções dos serviços de inteligência e segurança do Estado em
mover um processo contra si e o seu jornal, William Tonet diz não fazer a
mínima ideia. Mas adianta que este é um reflexo do regime do Presidente José
Eduardo dos Santos promover actos criminosos: "Em Angola premeia-se a
incompetência. Em Angola premeiam-se os delitos. Já viu alguém que rouba ser
efetivamente indiciado? Pelo contrário. Ainda lhe perguntam porque é que roubou
pouco, devia ter roubado mais".
Sobre o assunto a DW
África tentou sem sucesso obter uma reação do SINSE, os serviços de
inteligência e segurança do Estado angolano. Aquela instituição não dispõe de
nenhum terminal para que os jornalistas possam entrar em contato com ela, e é
quase impossível obter o contato particular dos seus responsáveis.
Fonte:
DW