26/11/14

O Pranto de Leonel Gomes


Leonel Gomes, Secretário Executivo da CASA-CE(arquivo)
Hoje, a minha pretensão, tinha apenas um objectivo; homenagear um filho deste País, este filho que sendo de outros progenitores, na tradição Bantu, é também meu filho, como são todos os filhos deste nosso berço comum. Foi assim que aprendemos, fomos educados assim, por isso eis-me aqui:
Em primeiro lugar, para dizer ao mundo hipócrita dos interesses, que eu não estou ao serviço do petróleo, do diamante, ou de outra qualquer riqueza, não estou pelo interesse geoestratégico de quem quer que seja. Estou aqui, no interesse da vida, na convicção de que a vida do Africano tem tanto valor quanto ao dos americanos, europeus ou outros, mas também com a convicção de que serei morto amanhã, com a cumplicidade da comunidade internacional, devido aos interesses inconfessos, que levam à coisificação dos angolanos, o que não aceitariam para si, fosse qual fosse a circunstância.
Em segundo lugar, para com os fundamentos, poucos, porque o rol do nosso pranto é longo e tem sido consumido pelo deserto, mas ainda assim, podem servir de alguma reflexão, para quem nos queira ouvir e que se seguem:
1.    Em 10 do corrente, com a simples intenção de comemorarmos o passamento físico por assassinato daquele que em viva se chamou, Hilberto Ganga, que foi membro e dirigente da CASA-CE, mas hoje patrono da Juventude Patriótica de Angola-JPA, endereçamos cartas de intenção à Polícia Nacional, ao Governo Provincial de Luanda, além de uma conferência de imprensa realizada e que, mais uma vez, infelizmente os órgãos, que deveriam ser, de comunicação social pública, não só, não passaram, como procuraram manipular, com intervenções dos ditos comentadores (sobejamente conhecidos), em tempo nobre, com a finalidade de justificar os assassinatos impunes, incentivar ao ódio, à discórdia e até mesmo a mecanismos de subversão, com o silêncio cúmplice dos órgãos de administração da justiça, mormente a PGR;
2.    Por ausência de respostas à nossa petição em tempo útil, tudo foi feito pelo nosso braço Juvenil, a JPA, para a existência de um encontro com a Polícia Nacional, onde nos deparamos com o caricato, de nos quererem impedir de marchar, mesmo depois de termos explicado a alteração do nosso trajecto, porque sabíamos que algumas organizações afectas ao poder, pretendiam inviabilizar a nossa actividade. Ora, a coberto de apartidarismos, foi-nos lido o artº 6º e 8º da lei das manifestações, para nos dizerem que, e por antecipação, os actos contra a segurança e ordem públicas seriam fortemente repelidos, mesmo antes de terem ocorrido, como se por artes mágicas, a polícia que devia ser republicana, estivesse contra a rés pública, prenunciando factos, apenas porque pretensamente os seus actores pertencerem à casta dos não iluminados de Angola;
3.    Por incrível que pareça, por orientação expressa dos que se pretendem mais que outros, no dia seguinte cria-se um tal movimento que obriga professores e alunos a participar numa marcha, sob pena de sanções, para todos os que não participarem, exactamente, num dos dias em que nos propusemos (22 do corrente) em homenagear o nosso mártir. Pasme-se, doze dias depois das nossa pretensão, quando todos os esforços estavam a ser envidados, por via da polícia, para inviabilizar a nossa acção;
4.    Estupefactamente, o mesmo responsável da polícia na pessoa do seu comandante da ordem e segurança pública, em violação ao princípio de acautelar a simultaneidade das acções por entidades diferentes no mesmo dia, com vista a se evitar choques, por orientação, autoriza e vai proteger, uma manifestação de subversão, à anteriormente anunciada, e, aceite com muitas reticências por essa mesma corporação. Face a isto que fazer?
5.    Falei pessoalmente com o Sr. Mateus André, no dia 21 do corrente, por ter sido, quem presidiu à reunião conjunta a que o Cte Sita, supostamente, se escusou a participar, pese embora, para além de eu ser Secretário Geral da CASA-CE e Deputado da ASSEMBLEIA NACIONAL, ter solicitado ao OSA em serviço, que me assegurou, estar presente;
6.    Abordado o seu representante (da reunião referida), foi-me claramente dito, que iriam defender a ordem. Perguntei-lhe que ordem, se a que solicitou antes ou à que, em contra mão, tudo tem feito para boicotar as pretensões da CASA-CE? Ironicamente disse-me que era apartidário. Perguntei-lhe se a mesma lei que me invocou dois dias antes era ou não a mesma para todos? Escusou-se dizendo que não era político, apenas cumpridor da lei. Disse-lhe a que lei se referia, quando havia feito invocação de algumas normas da mesma lei e agora, estava a omitir outras?
7.    Face a isto, é de depreender, que o que está em causa, não é a defesa da legalidade democrática. É apenas atentar contra todos os que, se oponham aos interesses do grupo que suporta e dirige o País à cerca de quarenta anos. Se essa é a pretensão, vão ter que matar muito mais gente, porque não vamos aceitar a mordaça, do assassinato político. A Polícia Nacional deve ter uma postura Republicana, tem de deixar de procurar alvos, para testar os meios à sua disposição para silenciar o Estado Democrático de Direito, sob pena de fazê-lo a expensas do cumprimento do princípio, segundo o qual, a Democracia e os Direitos Humanos não são o problema deste regime, porque foi-lhe imposto pelas circunstâncias;
8.  Nesta conformidade apelo a todos os amantes da vida, da liberdade, a estarmos juntos nesta luta, para dizermos, basta aos desmandos dos ditadores, basta aos assassinatos políticos. Lutemos para sermos;
TODOS POR ANGOLA-UMA ANGOLA PARA TODOS.
POR GANGA, CAMULINGUE, CASSULE E TODOS OS ASSASSINADOS POR PERFILHAREM IDEIAS DIFERENTES, O MEU PRANTO
O meu pranto, vai para estes filhos de Angola. Realço GANGA, em nome de todos os assassinados sem excepção.
GANGA foi um jovem de forte convicção e de “J” grande. O meu grito de revolta é por ti, GANGA, meu filho, meu amigo, meu companheiro, é contra os que fazem o terrorismo de Estado e por isso te ceifaram a vida, simplesmente, por teres apelado ao fim dos assassinatos políticos.
O meu pranto, é por ti, por todos os que lutam contra o fim da impunidade dos assassinatos políticos, é contra os que protegem os criminosos.
A minha homenagem é para GANGA, CASSULE, KAMULINGUE e todos os que foram, são e ainda serão assassinados, com o silêncio da cumplicidade dos que se dizem os bons, porque dos maus, não espero contemplação. É por todos que em defesa da vida e de ideias nobres, lhes é ceifada a vida, que vai o meu clamor. É por todos nós, os meros sobreviventes, destes que partiram antes por nós. É para percebermos todos, que a morte é o maior aliado da vida, pois os que matam, também hão-de morrer um dia, os mandantes, não ficarão para semente.
Nós os que ficamos, não devemos ser simples espectadores, devemos tudo fazer para honrar GANGA e todos os nossos mártires, para sermos merecedores do ideal de Liberdade e Dignidade, pelos quais foram bárbara e desonestamente assassinados. Honrar GANGA e todos os que partiram por nós, independentemente da cor partidária de pertença, é um dever de todos, na conservação da memória dos que não passaram aqui por acaso, ou indiferença, é dar continuidade aos seus feitos, porque nobres.
A natureza humana é fértil em contradições (factor privilegiado para o progresso), apenas avesso aos mentecaptos ciosos do poder a qualquer preço (não importa quantas vidas têm que ceifar). Os antípodas cientes do seu papel, numa vivência desafiante e inteligente, não receiam o contraditório, o pensamento diferenciado, não odeiam o outro, nem mandam matar por encomenda, pelo simples facto de não compactuarem com outrem.
GANGA era um jovem de natureza calma (se estivesse vivo, teria completado 33 -trinta e três- anos de vida -anos de Cristo-), mas de convicções muito profundas, em prol do bem comum, de UMA ANGOLA DE TODOS E PARA TODOS. Foi só por isso, que aderiu e aceitou o programa de TODOS POR ANGOLA-UMA ANGOLA PARA TODOS, arquitectado pela CASA-CE. Não buscou nunca benesses pessoais, lutou e foi assassinado pela causa de todos, que se resumia no bem estar para todos, em suma, na realização do bem comum. Este foi o crime que cometeu, segundo os seus assassinos, porque no momento, as únicas armas que empunhava, eram panfletos a favor da vida, ao fim dos assassinatos políticos, um pincel e cola; motivo que certas patentes da Guarda do Presidente da República entenderam, serem bastantes para assassinar, bárbara e friamente, um cidadão de bem, que muito ainda tinha para dar à família e ao País.
GANGA era um filho deste País, arreigado aos princípios e valores supremos da Constituição, cuja feitura e aprovação, não tendo participado, procurou defender com denodo; particularmente, os Princípios inerentes aos DIREITOS – LIBERDADES E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, Constitucionalmente consagrados, mas permanentemente violados, por quem os propôs e aprovou em 2010.

GANGA, nunca fez parte dos ditos arruaceiros previamente anunciados e por isso, destinados ao assassinato gratuito, mas era firme e determinado nas suas convicções pelo bem comum. Nunca aceitou, nunca se conformou às injustiças, em troca do servilismo. Foi sempre defensor acérrimo dos seus ideais, concerteza diferentes dos seus assassinos, porque pautou a sua vida reconhecendo e respeitando os outros e os seus ideais, viveu com intensidade e crença por uma Angola melhor para todos, daí o seu tributo pela MUDANÇA. Não uma qualquer MUDANÇA, mas a da felicidade e dignidade de todos os angolanos. É este filho, nosso, vosso, dos seus progenitores, mas fundamentalmente de UMA ANGOLA DE TODOS E PARA TODOS, que vai o meu pranto.
AOS HOMENS E MULHERES DE BEM, DE ANGOLA E DE TODO O MUNDO, A LUTA QUE VOS APELO, É PELO BEM COMUM, É CONTRA A MORTE QUE INFELIZMENTE EM ANGOLA FAZ DIVISA, E VOLTADA, CONTRA TODOS OS QUE PENSAM DIFERENTE. A VIDA DE GANGA E DE TODOS OS QUE PERECERAM E HÃO-DE PERECER NESTA JORNADA, ESTÁ NAS NOSSAS, NAS VOSSAS MÃOS. FAÇAM A VOSSA OPÇÃO AGORA, AMANHÃ PODE SER MUITO TARDE. A NOSSA OPÇÃO É POR ANGOLA E PELOS ANGOLANOS. É EM PROL DA VIDA E DA CIDADANIA E NÃO MAIS, DOS COMPADRIOS POLÍTICOS. SEREMOS TODOS CÚMPLICES DO QUE VIER A OCORRER AMANHÃ E DEPOIS. NÃO PERMITAMOS QUE OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA E ORDEM PÚBLICA, SIRVAM A MENTIRA ORQUESTRADA PELOS QUE URDIRAM UMA MANIFESTAÇÃO ATABALHOADA E CONVOCADA CONTRA A CONSCIÊNCIA DOS CONVOCADOS, PORQUE OBRIGATÓRIA PARA OS PROFESSORES E ALUNOS, COM A FINALIDADE DE CRIAR ARRUAÇA E INSTABILIDADE, FACE, À MAIS QUE ANUNCIADA ACTIVIDADE PACÍFICA E ORDEIRA DA CASA-CE, EM HOMENAGEM A GANGA, PATRONO DA JPA, SEU BRAÇO JUVENIL, BÁRBARAMENTE ASSASINADO PELA GUARDA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, CUJO AUTOR, AINDA SE ENCONTRA A MONTE DESDE O DIA 23 DE NOVEMBRO DE 2013, À DATA PRESENTE, APESAR DE EXISTIR UM SUPOSTO MANDATO DE CAPTURA QUE SOBRE SI IMPENDE.
ANGOLA É O TORRÃO MAIS SAGRADO DE TODOS OS SEUS FILHOS, É O HUMUS SAGRADO DO NOSSO VENTRE COMUM. COM ELA SEREMOS SEMPRE TUDO, SEM ELA SEREMOS NADA. HONRA E GLÓRIA A TODOS OS SEUS FILHOS.
Novembro do nosso sofrimento, do nosso pranto, da nossa revolta, do nosso abaixo, às mortes encomendadas.

Leonel José Gomes
(O VOSSO HUMILDE SERVIDOR)

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