Jornalista e activista cívico Rafael Marques |
Há gente séria e patriota em Angola contra a
cleptocracia, diz Ana Gomes
O
angolano Rafael Marques, jornalista e ativista, foi hoje recebido no Parlamento
Europeu. A discussão foi à volta da situação em Angola e da relação deste país
com Portugal.
Fonte:
Expresso
22:20 Quarta
feira, 14 de Novembro de 2012
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O jornalista e activista Rafael Marques que investiga há algum
tempo os negócios da família de José Eduardo dos Santos foi hoje recebido no
Parlamento Europeu pela socialista Ana Gomes, numa iniciativa que teve por objectivo
"dar voz às vozes corajosas, aos que têm coragem de denunciar o que está
mal e exigir transparência e prestação de contas".
Ana Gomes considera-se uma "amiga de Angola, alguém que em
Portugal lutou pela independência de Angola e, como responsável socialista,
lutou pela entrada do MPLA na Internacional Socialista em 2003".
Por isso, a eurodeputada considera ter "particulares exigências
em relação a Angola e em relação ao MPLA", onde diz que "há muita
gente séria e patriota e não quer ficar silenciosa diante da roubalheira que
está a ter lugar por parte de uma cleptocracia".
Portugal é a "lavandaria de Angola"
No final da reunião promovida por Ana Gomes sobre a situação em
Angola, Rafael Marques afirmou que, noutros países europeus, o tipo de operações
que Angola faz em Portugal "não é possível, porque as autoridades reagem
imediatamente ao fluxo de tanto dinheiro de forma ilegal. Por isso, é que
costumamos dizer que Portugal é a lavandaria de Angola".
O caso dado como exemplo pelo jornalista, cuja denúncia levou à
abertura, em Portugal, de um processo-crime e consequente investigação a altos
dirigentes angolanos, é a compra de 25% do BES Angola por oficiais da guarda
presidencial: "Onde é que militares de uma guarda presidencial encontraram
375 milhões de dólares para investir numa empresa portuguesa?", pergunta.
Para Ana Gomes, em Angola houve "um retrocesso com a nova Constituição, no
que toca ao equilíbrio de poderes e às possibilidades de controlo democrático
do executivo pelo Parlamento". No que diz respeito ao papel de Portugal,
Ana Gomes partilha a adjectivação de Rafael Marques: "não há dúvida
de que este esquema de desregulação, que está na origem da crise na Europa e
que vimos também muito consolidado no sistema financeiro do nosso pais, tem
permitido que o nosso pais funcione como lavandaria daqueles que desviam
dinheiro do desenvolvimento do povo angolano".
Portugal
tem "particulares responsabilidades"
Para a ex-diplomata Portugal tem, "pelos laços humanos intensíssimos"
com este país africano, "particulares responsabilidades para não funcionar
como a lavandaria de Angola, lavandaria do dinheiro desviado do desenvolvimento
em favor do povo angolano". "As nossas empresas têm que perceber que
têm responsabilidades sociais em Portugal mas também em Angola, operando lá. Não
é uma política inteligente tornar-se de tal maneira dependente do atual poder
angolano que um dia, obviamente, vai ter um fim", acrescentou.
Os empresários, na opinião de Ana Gomes, têm que perceber que os
angolanos têm "legítimas aspirações à transparência e ao funcionamento democrático,
ao controlo democrático dos órgãos de poder, e os portugueses não podem ser cúmplices
daqueles que tratam de violar essas regras elementares do funcionamento democrático".
Ana Gomes explicou que o encontro com Rafael Marques já está
combinado há um mês, muito antes da polémica gerada pela notícia do Expresso
sobre a investigação que o Ministério Público português está a fazer a pessoas
próximas do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
Quanto ao editorial de domingo do "jornal de Angola", publicado
na sequência da divulgação da investigação pelo Expresso, Rafael Marques diz
que se trata de "politica de má criação" por parte das autoridades
angolanas. Estas "contam sempre com a corrupção como a principal alavanca
da diplomacia e esperam de forma chantagista que os países com quem cooperam de
modo corrupto respondam, também, pela mesma medida, usando e colocando as suas
instituições ao serviço dos desígnios da elite angolana".
Quanto ao impacto deste episódio nas relações entre os dois países,
considera que "em princípio não terá quaisquer consequências porque Angola
depende de Portugal, a porta de entrada de Angola para a Europa é
Portugal".
Anabela
Natário e Daniel do Rosário, correspondente em Bruxelas (www.expresso.pt)
1 comentários:
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