Bento Kangamba |
O general
Bento dos Santos “Kangamba” escapou à detenção, há dias, no principado de Mónaco,
por ser portador de um passaporte diplomático.
As
autoridades francesas, segundo apurou o Maka
Angola, tentaram a detenção do general, que se encontrava hospedado no
Hotel Metrópole, em Monte-Carlo, com um séquito de 20 amigos. A polícia local
pretendia interrogar e encarcerar o general por branqueamento de capitais,
crime organizado e associação de malfeitores, mas o general invocou imunidade
diplomática para evitar a detenção.
Em causa está
a apreensão de dinheiro, no valor de quase 3 milhões de euros (cerca de US$ 4
milhões), e da detenção de cinco indivíduos, que transportavam o dinheiro, de
Portugal para a França, para pagamento do vício do general pelo jogo. O Hotel
Metrópole fica a 50 metros do Casino Monte-Carlo, o local preferido para os
jogos do general, que também é o secretário do comité provincial de Luanda do
MPLA para organização e mobilização periférica e rural. Os cinco indivíduos
encontram-se detidos por branqueamento de capitais, crime organizado e associação
de malfeitores.
As apreensões
tiveram lugar em duas ocorrências separadas no dia 14 de Junho, no sul de França,
envolvendo dois veículos de matrícula portuguesa. Na primeira ocorrência, à uma
hora da manhã, nas portagens de Arles, foram apreendidos 2 milhões de euros,
transportados na bagageira de um Mercedes, acomodados em 40 maços de notas, num
saco de plástico e numa caixa de sapatos. O motorista do veículo, Daniel de
Andrade Moreira, de nacionalidade portuguesa, que se fazia acompanhar da sua
esposa, disse às autoridades francesas que o dinheiro lhe havia sido confiado
por um amigo angolano, Carlos Silva. O casal tinha por missão entregar o
dinheiro a Carlos Silva, no hotel Le Métropole, em Monte Carlo, no Mónaco, onde
este organizava uma festa para o general Bento Kangamba, que ali se encontrava
de férias com um grupo de cerca de vinte amigos. Daniel de Andrade Moreira
disse ainda que Carlos Silva é empregado de Bento Kangamba. As diárias de quarto
mais barato, no referido hotel, são em média 600 euros (acima dos US $770) e
uma simples refeição ultrapassa os 200 euros por pessoa.
A segunda
apreensão ocorreu cerca de sete horas mais tarde, nas portagens de Saint-Jean
de Védas (Hérault), a cerca de 80 quilómetros do local da primeira ocorrência.
A polícia deteve os ocupantes de um segundo Mercedes, Anércio Martins de Sousa
e Gaudino Vaz Gomes, de nacionalidade angolana e cabo-verdiana respectivamente,
que transportavam 910 mil euros. O motorista explicou que o dinheiro se
destinava à compra de um imóvel em Nice e que ele receberia 10 porcento do
montante por fazer o transporte até ao seu proprietário, José Francisco.
Os ocupantes
do segundo Mercedes foram levados para a esquadra de Montpellier, onde outros
quatro indivíduos se apresentaram para os libertar e recuperar o dinheiro. Os
quatro foram também detidos, entre eles José Francisco. Outro dos detidos,
Carlos Filomeno de Jesus Lima da Silva “Carlos Silva”, era portador de 60 mil
euros e de um cartão bancário em nome do general Bento dos Santos “Kangamba” e
disse às autoridades que estava de férias no Mónaco com um grupo de amigos. O
mesmo Carlos Silva revelou à justiça francesa a leveza e a regularidade com que
o general Bento Kangamba movimenta milhões de dólares, em sacos e malas, em
Angola. “Em Angola, é normal [ele o Bento Kangamba] transportar o seu dinheiro
assim.”
Hotel Metrópole em Monte Carlo, onde se hospedou Kangamba e um séquito de 20 pessoas que o acompanhava... |
Segundo
declarações de Nuno Jorge Avelar Santos Vieira, motorista profissional, ao juiz
de instrução, Carlos Silva é secretário do general Bento Kangamba.
Maka Angola contactou o
advogado Jorge Mendes Constante, indicado como sendo o defensor dos detidos.
Este referiu que ainda não foi constituído advogado, mas confirmou a que alguns
dos suspeitos continuam detidos, sem ter avançado nomes ou o teor das acusações.
Afirmou
ainda que o bastonário da Ordem dos Advogados de Marselha, Erick Campana, foi
contratado para defender os suspeitos. Maka
Angola tentou o contacto com Erick Campana, sem sucesso.
O General da Impunidade
Bento
Kangamba goza da protecção incondicional do Presidente José Eduardo dos Santos,
de quem é sobrinho por afinidade. É casado a Avelina dos Santos, sobrinha do
Presidente e directora-adjunta do seu gabinete, num caso flagrante de
nepotismo. O general Bento Kangamba ocupa um gabinete na Casa de Segurança do
Presidente da República, dirigida pelo general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”.
Nesse gabinete é reverenciado por ter um “saco azul”, com milhões de dólares à
sua disposição e sem prestação de contas, para operações tenebrosas e satisfação
dos seus caprichos pessoais, como o vício do jogo.
O mais grave
é o uso impune de Portugal e a cumplicidade das autoridades deste país.
Regularmente, tem havido denúncias de utilização do aeroporto de Lisboa como
ponto de passagem anual de milhões de dólares, em malas e sacos, por “mulas” de
membros do regime angolano. Portugal é hoje uma autêntica lavandaria para
branqueamento de capitais saqueados em Angola.
Quando está
em Lisboa, Bento Kangamba é conhecido por ocupar, com regularidade, um andar
inteiro no Hotel Sheraton, para si e a sua corte. Normalmente viaja com uma
coluna de Mercedes pela Europa, em parte, para evitar viajar de avião.
Fonte: Maka Angola
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