10/08/12

IDEIAS E PERCEPÇÕES… OU VICE-VERSA


OPINIÃO


Em “Os Filhos da Rua Arbat”, o escritor Russo Anatoli Ribakov descreve satiricamente a trajectória de Joseph Staline como um Georgiano de classe baixa que, às custas da revolução Bolchevique, se viu a páginas tantas como o patrão incontestável , adorado e adulado da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Na apresentação do livro – que como é consabido permaneceu proibido durante vinte anos em toda URSS – a  editora conclui dizendo que Ribakov “escreveu a obra definitiva sobre o processo que levou um dirigente a aterrorizar uma nação inteira”!

Entrementes, na opinião de alguns Staline foi o factor determinante que impediu em 1943  a tomada de Moscovo pelas forças Nazis, na célebre batalha que influenciou o curso da II Guerra Mundial. Mas na história universal das grandes batalhas está escrito que o sucesso deveu-se ao génio militar do general Gregory Zukhov, esse mesmo que viveu grande parte da sua vida  militar ostracizado e hostilizado pelo supremo chefe. No epílogo da guerra fria a URSS seria varrida do mapa deixando muitas saudades em não poucos sectores do Mundo e imensa satisfação noutros tantos. Eu, que pertenço àquela geração de pessoas que querendo ou não se viu impregnada pelos efeitos dos dois blocos que comandaram a guerra fria interrogo-me muitas vezes, para perceber o que esteve de facto por detrás da derrocada soviética, deixando um mar de “órfãos” em todo Mundo.

E foi com o suposto fim da guerra fria que o multipartidarismo chegou a Angola. Vão dizendo, alguns intelectuais e militantes de causa partidária, que este é mais um feito do MPLA , o que contraria a afirmação de José Eduardo dos Santos quando disse que “a democracia foi-nos imposta” e que ela “não enche a barriga”. Estas afirmações são mais do que circunstanciais. Elas configuram, na verdade, um autêntico manifesto doutrinário e, por isso mesmo, criam apreensões justificáveis e justificadas em vários sectores da sociedade. E a prática, que é o único critério da verdade, vai mostrando que a democracia – assim mesmo também a paz – vem sendo utilizada pelos detentores do poder político no país como um mero slogan circunstancial para “driblar” a opinião pública. Veja-se, para exemplo, a relutância em aprovar definitivamente um regulamento sobre a lei da comunicação social e, como consequência, o receio em permitir à rádio Eclésia e não só a emissão em ondas curtas. Veja-se ainda os maus tratos a que têm sido sujeitos os manifestantes inofensivos  cuja grandeza tem decorrido da sua coragem em 1º lugar, mas também da repressão brutal pelas mãos de gente que,  não fosse a cumplicidade dos órgãos competentes, há muito estaria “a contas com a justiça”.

Pela sua natureza, a democracia é impensável com cidadãos  sem alternativa de informação. Vai daí que a “consolidação da democracia” pressupõe, em 1º lugar, a criação de condições para informar objectivamente o cidadão. 

Fazer o contrário e falar em “consolidação da democracia” é pura falácia. É óbvio que esta finta visa dois objectivos essenciais: por um lado fazer crer que a democracia, apesar de ter sido imposta, veio mesmo para ficar e vai, assim mesmo, ser consolidada. Por outro lado – e este é o mais repugnante – visa manter uma reserva eleitoral intocável, porque iletrada e desinformada!
Ao consulado do presidente José Eduardo dos Santos ficará ligada a reconstrução das infraestruturas destruídas pela guerra entre o MPLA e a UNITA. É um facto por demais evidente para ser constantemente apresentado como novidade. Pode, como tem sido, ser apresentado como bandeira eleitoralista ocupando mesmo mais de 2/3 do tempo e das páginas dos órgãos de comunicação públicos. Mas há aqui um equívoco, senão mesmo um engodo. O regime colonial de Américo Tomás, Oliveira Salazar e Marcelo Caetano já haviam feito o mesmo sem que tais obras fossem traduzidas na melhoria das condições de vida do povo angolano. Beneficiava apenas os colonos e suas famílias. Foi por isso que, apesar dos altos índices de produção do café, dos cereais e etc., apesar de todas as estradas e caminhos de ferro então existentes, apesar dos prédios e vivendas que iam sendo construídos, pessoas como José Eduardo dos Santos decidiram lutar de armas na mão contra aquele regime colonial! O quadro hoje é  pior. Explico-me: naquela era salazarista a construção de estradas e de outras infraestruturas era feita a custa do suor dos contratados autóctones  em troca de apenas “fuba podre e peixe podre”. Hoje, na era “Eduardina”, nem isso. A reconstrução das infraestruturas básicas e a construção de outras é toda ela feita à custa de expatriados, deixando os cidadãos nacionais completamente à margem de tudo e, o que é ainda pior, no desemprego. Ou seja, os postos de trabalho decorrentes das obras públicas , foram entregues a estrangeiros, ficando os nacionais a verem “ navios a passar”.

A CASA-CE veio e vai banir este status!

Texto enviado para o JA


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