OPINIÃO
Em “Os Filhos da Rua Arbat”, o
escritor Russo Anatoli Ribakov descreve satiricamente a trajectória de Joseph
Staline como um Georgiano de classe baixa que, às custas da revolução
Bolchevique, se viu a páginas tantas como o patrão incontestável , adorado e
adulado da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Na apresentação do
livro – que como é consabido permaneceu proibido durante vinte anos em toda
URSS – a editora conclui dizendo
que Ribakov “escreveu a obra definitiva sobre o processo que levou um dirigente
a aterrorizar uma nação inteira”!
Entrementes, na opinião de alguns Staline
foi o factor determinante que impediu em 1943 a tomada de Moscovo pelas forças Nazis, na célebre batalha que
influenciou o curso da II Guerra Mundial. Mas na história universal das grandes
batalhas está escrito que o sucesso deveu-se ao génio militar do general Gregory
Zukhov, esse mesmo que viveu grande parte da sua vida militar ostracizado e hostilizado pelo supremo
chefe. No epílogo da guerra fria a URSS seria varrida do mapa deixando muitas
saudades em não poucos sectores do Mundo e imensa satisfação noutros tantos.
Eu, que pertenço àquela geração de pessoas que querendo ou não se viu
impregnada pelos efeitos dos dois blocos que comandaram a guerra fria
interrogo-me muitas vezes, para perceber o que esteve de facto por detrás da
derrocada soviética, deixando um mar de “órfãos” em todo Mundo.
E foi com o suposto fim da guerra
fria que o multipartidarismo chegou a Angola. Vão dizendo, alguns intelectuais
e militantes de causa partidária, que este é mais um feito do MPLA , o que
contraria a afirmação de José Eduardo dos Santos quando disse que “a democracia
foi-nos imposta” e que ela “não enche a barriga”. Estas afirmações são mais do
que circunstanciais. Elas configuram, na verdade, um autêntico manifesto
doutrinário e, por isso mesmo, criam apreensões justificáveis e justificadas em
vários sectores da sociedade. E a prática, que é o único critério da verdade,
vai mostrando que a democracia – assim mesmo também a paz – vem sendo utilizada
pelos detentores do poder político no país como um mero slogan circunstancial
para “driblar” a opinião pública. Veja-se, para exemplo, a relutância em
aprovar definitivamente um regulamento sobre a lei da comunicação social e,
como consequência, o receio em permitir à rádio Eclésia e não só a emissão em
ondas curtas. Veja-se ainda os maus tratos a que têm sido sujeitos os
manifestantes inofensivos cuja
grandeza tem decorrido da sua coragem em 1º lugar, mas também da repressão
brutal pelas mãos de gente que, não fosse a cumplicidade dos órgãos competentes, há muito
estaria “a contas com a justiça”.
Pela sua natureza, a democracia é
impensável com cidadãos sem
alternativa de informação. Vai daí que a “consolidação da democracia”
pressupõe, em 1º lugar, a criação de condições para informar objectivamente o
cidadão.
Fazer o contrário e falar em “consolidação da democracia” é pura
falácia. É óbvio que esta finta visa dois objectivos essenciais: por um lado
fazer crer que a democracia, apesar de ter sido imposta, veio mesmo para ficar
e vai, assim mesmo, ser consolidada. Por outro lado – e este é o mais
repugnante – visa manter uma reserva eleitoral intocável, porque iletrada e
desinformada!
Ao consulado do presidente José
Eduardo dos Santos ficará ligada a reconstrução das infraestruturas destruídas
pela guerra entre o MPLA e a UNITA. É um facto por demais evidente para ser
constantemente apresentado como novidade. Pode, como tem sido, ser apresentado
como bandeira eleitoralista ocupando mesmo mais de 2/3 do tempo e das páginas
dos órgãos de comunicação públicos. Mas há aqui um equívoco, senão mesmo um
engodo. O regime colonial de Américo Tomás, Oliveira Salazar e Marcelo Caetano
já haviam feito o mesmo sem que tais obras fossem traduzidas na melhoria das
condições de vida do povo angolano. Beneficiava apenas os colonos e suas
famílias. Foi por isso que, apesar dos altos índices de produção do café, dos
cereais e etc., apesar de todas as estradas e caminhos de ferro então
existentes, apesar dos prédios e vivendas que iam sendo construídos, pessoas
como José Eduardo dos Santos decidiram lutar de armas na mão contra aquele
regime colonial! O quadro hoje é
pior. Explico-me: naquela era salazarista a construção de estradas e de
outras infraestruturas era feita a custa do suor dos contratados
autóctones em troca de apenas
“fuba podre e peixe podre”. Hoje, na era “Eduardina”, nem isso. A reconstrução
das infraestruturas básicas e a construção de outras é toda ela feita à custa
de expatriados, deixando os cidadãos nacionais completamente à margem de tudo
e, o que é ainda pior, no desemprego. Ou seja, os postos de trabalho
decorrentes das obras públicas , foram entregues a estrangeiros, ficando os
nacionais a verem “ navios a passar”.
A CASA-CE veio e vai banir este
status!
Texto enviado para o JA
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