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Leonel Gomes, Secretário Executivo da CASA-CE(arquivo) |
Hoje, a minha pretensão, tinha apenas um objectivo; homenagear
um filho deste País, este filho que sendo de outros progenitores, na tradição
Bantu, é também meu filho, como são todos os filhos deste nosso berço comum. Foi
assim que aprendemos, fomos educados assim, por isso eis-me aqui:
Em primeiro lugar, para dizer ao mundo hipócrita dos interesses,
que eu não estou ao serviço do petróleo, do diamante, ou de outra qualquer
riqueza, não estou pelo interesse geoestratégico de quem quer que seja. Estou
aqui, no interesse da vida, na convicção de que a vida do Africano tem tanto
valor quanto ao dos americanos, europeus ou outros, mas também com a convicção
de que serei morto amanhã, com a cumplicidade da comunidade internacional,
devido aos interesses inconfessos, que levam à coisificação dos angolanos, o
que não aceitariam para si, fosse qual fosse a circunstância.
Em segundo lugar, para com os fundamentos, poucos, porque o rol
do nosso pranto é longo e tem sido consumido pelo deserto, mas ainda assim, podem
servir de alguma reflexão, para quem nos queira ouvir e que se seguem:
1.
Em 10 do corrente, com a simples intenção de comemorarmos o
passamento físico por assassinato daquele que em viva se chamou, Hilberto
Ganga, que foi membro e dirigente da CASA-CE, mas hoje patrono da Juventude
Patriótica de Angola-JPA, endereçamos cartas de intenção à Polícia Nacional, ao
Governo Provincial de Luanda, além de uma conferência de imprensa realizada e
que, mais uma vez, infelizmente os órgãos, que deveriam ser, de comunicação
social pública, não só, não passaram, como procuraram manipular, com intervenções
dos ditos comentadores (sobejamente conhecidos), em tempo nobre, com a
finalidade de justificar os assassinatos impunes, incentivar ao ódio, à discórdia
e até mesmo a mecanismos de subversão, com o silêncio cúmplice dos órgãos de
administração da justiça, mormente a PGR;
2.
Por ausência de respostas à nossa petição em tempo útil, tudo
foi feito pelo nosso braço Juvenil, a JPA, para a existência de um encontro com
a Polícia Nacional, onde nos deparamos com o caricato, de nos quererem impedir
de marchar, mesmo depois de termos explicado a alteração do nosso trajecto,
porque sabíamos que algumas organizações afectas ao poder, pretendiam
inviabilizar a nossa actividade. Ora, a coberto de apartidarismos, foi-nos lido
o artº 6º e 8º da lei das manifestações, para nos dizerem que, e por antecipação,
os actos contra a segurança e ordem públicas seriam fortemente repelidos, mesmo
antes de terem ocorrido, como se por artes mágicas, a polícia que devia ser
republicana, estivesse contra a rés pública, prenunciando factos, apenas porque
pretensamente os seus actores pertencerem à casta dos não iluminados de Angola;
3.
Por incrível que pareça, por orientação expressa dos que se
pretendem mais que outros, no dia seguinte cria-se um tal movimento que obriga
professores e alunos a participar numa marcha, sob pena de sanções, para todos
os que não participarem, exactamente, num dos dias em que nos propusemos (22 do
corrente) em homenagear o nosso mártir. Pasme-se, doze dias depois das nossa
pretensão, quando todos os esforços estavam a ser envidados, por via da polícia,
para inviabilizar a nossa acção;
4.
Estupefactamente, o mesmo responsável da polícia na pessoa do
seu comandante da ordem e segurança pública, em violação ao princípio de
acautelar a simultaneidade das acções por entidades diferentes no mesmo dia, com
vista a se evitar choques, por orientação, autoriza e vai proteger, uma
manifestação de subversão, à anteriormente anunciada, e, aceite com muitas
reticências por essa mesma corporação. Face a isto que fazer?
5.
Falei pessoalmente com o Sr. Mateus André, no dia 21 do
corrente, por ter sido, quem presidiu à reunião conjunta a que o Cte Sita, supostamente,
se escusou a participar, pese embora, para além de eu ser Secretário Geral da
CASA-CE e Deputado da ASSEMBLEIA NACIONAL, ter solicitado ao OSA em serviço,
que me assegurou, estar presente;
6.
Abordado o seu representante (da reunião referida), foi-me
claramente dito, que iriam defender a ordem. Perguntei-lhe que ordem, se a que
solicitou antes ou à que, em contra mão, tudo tem feito para boicotar as
pretensões da CASA-CE? Ironicamente disse-me que era apartidário. Perguntei-lhe
se a mesma lei que me invocou dois dias antes era ou não a mesma para todos?
Escusou-se dizendo que não era político, apenas cumpridor da lei. Disse-lhe a
que lei se referia, quando havia feito invocação de algumas normas da mesma lei
e agora, estava a omitir outras?
7.
Face a isto, é de depreender, que o que está em causa, não é a
defesa da legalidade democrática. É apenas atentar contra todos os que, se
oponham aos interesses do grupo que suporta e dirige o País à cerca de quarenta
anos. Se essa é a pretensão, vão ter que matar muito mais gente, porque não
vamos aceitar a mordaça, do assassinato político. A Polícia Nacional deve ter
uma postura Republicana, tem de deixar de procurar alvos, para testar os meios à
sua disposição para silenciar o Estado Democrático de Direito, sob pena de fazê-lo
a expensas do cumprimento do princípio, segundo o qual, a Democracia e os
Direitos Humanos não são o problema deste regime, porque foi-lhe imposto pelas
circunstâncias;
8. Nesta conformidade apelo a todos os
amantes da vida, da liberdade, a estarmos juntos nesta luta, para dizermos,
basta aos desmandos dos ditadores, basta aos assassinatos políticos. Lutemos para
sermos;
TODOS POR ANGOLA-UMA ANGOLA PARA TODOS.
POR GANGA, CAMULINGUE, CASSULE E TODOS OS ASSASSINADOS POR PERFILHAREM
IDEIAS DIFERENTES, O MEU PRANTO
O meu pranto, vai para estes filhos de Angola. Realço GANGA, em
nome de todos os assassinados sem excepção.
GANGA foi um jovem de forte convicção e de “J” grande. O meu
grito de revolta é por ti, GANGA, meu filho, meu amigo, meu companheiro, é
contra os que fazem o terrorismo de Estado e por isso te ceifaram a vida,
simplesmente, por teres apelado ao fim dos assassinatos políticos.
O meu pranto, é por ti, por todos os que lutam contra o fim da
impunidade dos assassinatos políticos, é contra os que protegem os criminosos.
A minha homenagem é para GANGA, CASSULE, KAMULINGUE e todos os
que foram, são e ainda serão assassinados, com o silêncio da cumplicidade dos
que se dizem os bons, porque dos maus, não espero contemplação. É por todos que
em defesa da vida e de ideias nobres, lhes é ceifada a vida, que vai o meu
clamor. É por todos nós, os meros sobreviventes, destes que partiram antes por
nós. É para percebermos todos, que a morte é o maior aliado da vida, pois os
que matam, também hão-de morrer um dia, os mandantes, não ficarão para semente.
Nós os que ficamos, não devemos ser simples espectadores,
devemos tudo fazer para honrar GANGA e todos os nossos mártires, para sermos
merecedores do ideal de Liberdade e Dignidade, pelos quais foram bárbara e
desonestamente assassinados. Honrar GANGA e todos os que partiram por nós,
independentemente da cor partidária de pertença, é um dever de todos, na
conservação da memória dos que não passaram aqui por acaso, ou indiferença, é dar
continuidade aos seus feitos, porque nobres.
A natureza humana é fértil em contradições (factor privilegiado
para o progresso), apenas avesso aos mentecaptos ciosos do poder a qualquer preço
(não importa quantas vidas têm que ceifar). Os antípodas cientes do seu papel,
numa vivência desafiante e inteligente, não receiam o contraditório, o
pensamento diferenciado, não odeiam o outro, nem mandam matar por encomenda,
pelo simples facto de não compactuarem com outrem.
GANGA era um jovem de natureza calma (se estivesse vivo, teria completado
33 -trinta e três- anos de vida -anos de Cristo-), mas de convicções muito
profundas, em prol do bem comum, de UMA ANGOLA DE TODOS E PARA TODOS. Foi só
por isso, que aderiu e aceitou o programa de TODOS POR ANGOLA-UMA ANGOLA PARA
TODOS, arquitectado pela CASA-CE. Não buscou nunca benesses pessoais, lutou e
foi assassinado pela causa de todos, que se resumia no bem estar para todos, em
suma, na realização do bem comum. Este foi o crime que cometeu, segundo os seus
assassinos, porque no momento, as únicas armas que empunhava, eram panfletos a
favor da vida, ao fim dos assassinatos políticos, um pincel e cola; motivo que
certas patentes da Guarda do Presidente da República entenderam, serem
bastantes para assassinar, bárbara e friamente, um cidadão de bem, que muito
ainda tinha para dar à família e ao País.
GANGA era um filho deste País, arreigado aos princípios e
valores supremos da Constituição, cuja feitura e aprovação, não tendo
participado, procurou defender com denodo; particularmente, os Princípios
inerentes aos DIREITOS – LIBERDADES E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, Constitucionalmente
consagrados, mas permanentemente violados, por quem os propôs e aprovou em
2010.
GANGA, nunca fez parte dos ditos arruaceiros previamente anunciados
e por isso, destinados ao assassinato gratuito, mas era firme e determinado nas
suas convicções pelo bem comum. Nunca aceitou, nunca se conformou às injustiças,
em troca do servilismo. Foi sempre defensor acérrimo dos seus ideais, concerteza
diferentes dos seus assassinos, porque pautou a sua vida reconhecendo e
respeitando os outros e os seus ideais, viveu com intensidade e crença por uma
Angola melhor para todos, daí o seu tributo pela MUDANÇA. Não uma qualquer MUDANÇA,
mas a da felicidade e dignidade de todos os angolanos. É este filho, nosso,
vosso, dos seus progenitores, mas fundamentalmente de UMA ANGOLA DE TODOS E
PARA TODOS, que vai o meu pranto.
AOS HOMENS E
MULHERES DE BEM, DE ANGOLA E DE TODO O MUNDO, A LUTA QUE VOS APELO, É PELO BEM
COMUM, É CONTRA A MORTE QUE INFELIZMENTE EM ANGOLA FAZ DIVISA, E VOLTADA, CONTRA
TODOS OS QUE PENSAM DIFERENTE. A VIDA DE GANGA E DE TODOS OS QUE PERECERAM E HÃO-DE
PERECER NESTA JORNADA, ESTÁ NAS NOSSAS, NAS VOSSAS MÃOS. FAÇAM A VOSSA OPÇÃO
AGORA, AMANHÃ PODE SER MUITO TARDE. A NOSSA OPÇÃO É POR ANGOLA E PELOS
ANGOLANOS. É EM PROL DA VIDA E DA CIDADANIA E NÃO MAIS, DOS COMPADRIOS POLÍTICOS.
SEREMOS TODOS CÚMPLICES DO QUE VIER A OCORRER AMANHÃ E DEPOIS. NÃO PERMITAMOS
QUE OS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA E ORDEM PÚBLICA, SIRVAM A MENTIRA ORQUESTRADA PELOS QUE
URDIRAM UMA MANIFESTAÇÃO ATABALHOADA E CONVOCADA CONTRA A CONSCIÊNCIA DOS
CONVOCADOS, PORQUE OBRIGATÓRIA PARA OS PROFESSORES E ALUNOS, COM A FINALIDADE
DE CRIAR ARRUAÇA E INSTABILIDADE, FACE, À MAIS QUE ANUNCIADA ACTIVIDADE PACÍFICA
E ORDEIRA DA CASA-CE, EM HOMENAGEM A GANGA, PATRONO DA JPA, SEU BRAÇO JUVENIL,
BÁRBARAMENTE ASSASINADO PELA GUARDA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, CUJO AUTOR,
AINDA SE ENCONTRA A MONTE DESDE O DIA 23 DE NOVEMBRO DE 2013, À DATA PRESENTE,
APESAR DE EXISTIR UM SUPOSTO MANDATO DE CAPTURA QUE SOBRE SI IMPENDE.
ANGOLA É O TORRÃO
MAIS SAGRADO DE TODOS OS SEUS FILHOS, É O HUMUS SAGRADO DO NOSSO VENTRE COMUM.
COM ELA SEREMOS SEMPRE TUDO, SEM ELA SEREMOS NADA. HONRA E GLÓRIA A TODOS OS
SEUS FILHOS.
Novembro do nosso sofrimento, do nosso pranto, da nossa revolta,
do nosso abaixo, às mortes encomendadas.
Leonel José Gomes
(O VOSSO HUMILDE SERVIDOR)